Um dos processos mais importantes no projeto de um veleiro é o cálculo do que aqui convencionamos chamar de balanço.
Não à toa, o projeto de um veleiro é sinônimo de mais iterações (na espiral de projeto) que qualquer outro tipo de embarcação. Por carregar uma vela para sua própria propulsão, variáveis antes nunca imaginadas vêm à tona, transformando o processo e agregando tarefas para que o projetista possa garantir que o barco irá de fato navegar e não apenas derivar (deslizar de lado).
O que chamamos de balanço compreende, na verdade, duas tarefas. A primeira, e mais importante para a segurança, é simplesmente fazer com que as velas que projetamos para propelir uma determinada embarcação tenham seu esforço lateral (força gerada pelo vento nas velas) equiparado com a resistência lateral oferecida pelo patilhão (ou quilha, ou bolina), que é o apêndice que apenas os veleiros levam e que tem a função de justamente equilibrar a embarcação no rumo, e evitar que a força lateral das velas levem o barco pelo seu lado.
O outro aspecto importante no cálculo do balanço é garantir que a posição relativa entre o centro vélico e o centro lateral submerso do casco estejam posicionados de tal forma que a embarcação possa ser governada (guiada/pilotada) sem maiores esforços por parte do leme. Em geral, esse cálculo é feito de forma que se preserve uma leve tendência no leme a orçar, ou seja, uma tendência do barco de alinhar sua proa com o vento (isso ajuda a “sentir” o barco). Dessa forma, garantimos que mesmo que ocorra algum problema a bordo e o piloto suma ou perca o governo de algum modo, o barco pare no contravento, ao invés de prosseguir acelerando e velejando (o que poderia ser bastante perigoso…)!
Segue então um breve procedimento para o cálculo (e para as contínuas iterações) dessa que é uma importante análise para o projetista de veleiros dos pequenos aos grandes iates. Nunca se esqueça, porém, que estamos propondo aqui uma aproximação baseada em uma determinada espiral de projeto, um método já previamente escolhido, e que independente dos resultados obtidos nos primeiros cálculos seu projeto ainda deve ser revisado como um todo, incluindo aí mais diversas passagens e re-cálculos, até que todos os seus parâmetros convirjam.
Sobre o Autor
Luiz Carvalho
É Engenheiro Naval formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Com larga experiência como velejador, já correu regatas nas classes Laser, Snipe e finalmente como tripulante na ORC, participando de importantes eventos, como a Regata Internacional Santos – Rio. É um apaixonado por barcos e acredita que reside um grande potencial a ser explorado no povo brasileiro, através de políticas voltadas para a imensa costa atlântica e os milhares de quilômetros de rios navegáveis de que o país dispõe.
Oi Luiz, obrigado pelo artigo, foi uma leitura muito produtiva.
Finalmente eu consegui compreender bem esse conceito!