No dia 12 de dezembro foi realizado o primeiro Seminário Internacional de Tecnologia Náutica. O evento teve a participação de oito palestrantes, especialistas em suas respectivas áreas de atuação.
O evento começou com a palestra de Thiago Marinho, falando de hidrofólios e de sua pesquisa de mestrado na Stevens Institute de NJ.
Embarcações de alta velocidade sempre foram muito desejadas por todos que gostam de lanchas. E a tecnologia dos hidrofólios vem para aumentar esse interesse.
Thiago apresentou uma palestra que mostra que as embarcações não precisam ser sofisticadas para terem fólios. O grande desafio é o projeto do sistema de controle e, para isso, ele desenvolveu um software de projeto aberto. Agora, ele conta com contribuições da comunidade náutica para terminá-lo.
Em seguida, na linha das embarcações de alto desempenho, o professor Richard Schachter, da UFRJ, apresentou uma introdução ao projeto hidrodinâmico de lanchas, um assunto sempre surpreendente e instigante mesmo para quem já é profissional no setor.
Saindo da área de projetos de embarcações de planeio, o professor Ricardo Aurélio Quinhões, da UFSC, apresentou um panorama dos processos de construção no mundo náutico. Com sua larga experiência no assunto no país, o pesquisador apontou a diferença atual entre a produção nos estaleiros náuticos do Brasil e do exterior.
Ricardo Aurélio apontou também que o custo de matéria prima para os estaleiros brasileiros é fator determinante para o sucesso do empreendimento e reflete diretamente a difusão da náutica no país. Segundo ele, apesar de termos acesso a alguns poucos insumos específicos que estão disponíveis a custos mais acessíveis no exterior, a necessidade de importação de materiais acaba tornando o produto mais caro e dificultando sua produção e venda no país.
Ricardo Aurélio apontou também para o curioso fato de que a grande maioria dos estaleiros no mundo produz embarcações seriadas, diferentemente da indústria naval.
Depois foi a vez do CEO da Holos Brasil, Lorenzo Souza, subir ao palanque para apresentar sua grande experiência na produção de pequenas embarcações, como o Dingue – que hoje já soma cerca de 800 barcos produzidos. Lorenzo Souza também apresentou os demais projetos desenvolvidos pela empresa, que usa atualmente uma máquina de comando numérico para produção de projetos.
As diversas experiências da Holos com os diferentes projetos protótipos foram apresentadas na ordem de eficiência de uso de material e tempo de construção.
Após o almoço, Jorge Nasseh, o CEO da Barracuda Composites, apresentou a cronologia das resinas e do uso de materiais compósitos, desde as primeiras experiências com esses materiais. Ele também apontou as vantagens da infusão, que a partir da década de 70, passou a ser perseguida pelas excelentes propriedades mecânicas que o processo garante às fibras. Esse método reduz a quantidade de resina dentro do laminado, produzindo assim uma peça mais forte e muito mais leve, tornando-se uma opção muito atraente para fabricação, inclusive, de pás de usinas eólicas. Por ser também um método barato, é uma excelente opção para o construtor.
Logo em seguida assumiu o microfone o professor Alexandre Pinho Alho, da UFRJ, que mostrou, dentre outras aplicações, como são simulados os escoamentos de resina nas infusões a vácuo, comentadas anteriormente por Jorge Nasseh. Sua palestra fez uma descrição do processo de projeto usando CFD (Computational Fluid Dynamics).
Ele apresentou alguns interessantes casos de aplicação do CFD e comprovou a eficácia do método aplicado ao mercado náutico. Alexandre Alho assinalou que o CFD calcula o campo de pressões e o campo de velocidades ao redor do casco, o que garante subsídios para virtualmente quaisquer análises hidrodinâmicas do casco.
No último bloco do evento assumiu o microfone o engenheiro e consultor de novas tecnologias da SOTREQ, Saul Machado, com a apresentação sobre Tecnologias de Monitoramento Remoto de Embarcações. O palestrante expôs o fato de não bastar o uso de telemetria, mas sim de melhores estratégias de análise dos sistemas embarcados, propiciando uma melhor navegação para os armadores e proprietários de embarcações. Participando um pouco mais do dia a dia do cliente, um técnico exclusivo monitora a embarcação, bastando que haja um acesso ao horímetro do motor para que seja feito um diagnóstico de toda a embarcação.
O objetivo, segundo o palestrante, é o aumento operacional da embarcação com o menor custo possível.
A última e não menos importante palestra do evento foi apresentada pelo diretor técnico da revista náutica, Márcio Dottori. Ele, com sua larga experiência no meio náutico, apresentou um panorama do mercado náutico do país, mostrando o potencial do litoral brasileiro, desde as escunas de sal de construção artesanal do Maranhão, passando pelos Classe Brasil, até a Carbrasmar (que fabricou mais de 15 mil barcos) e Fast, entre outros estaleiros que figuram ou figuraram no cenário náutico brasileiro em todas as suas fases.
“Chegamos a ter estaleiros produzindo 1200 barcos por mês. A indústria náutica nunca teve um crescimento linear no Brasil. Ela é sempre cíclica, apesar de dispormos de um clima essencialmente tropical.” – Afirmou o palestrante.
Ele mostrou que, apesar dos 8500km de litoral, o Brasil dispõe apenas de polos náuticos isolados, por conta também do recorte natural da costa.
Marcio apontou a falta de locais para guardar barcos, especialmente na Baía de Guanabara, como um dos fatores que dificultam o crescimento do setor no Rio de Janeiro.
Os pouco mais de 45000 metros de águas interiores navegáveis, entretanto, caracterizam o grande potencial náutico brasileiro. Barra Bonita é um exemplo desse potencial, que figura como a segunda região com maior número de embarcações registradas na marinha.
Outro ponto levantado pelo palestrante é que apesar dos mais de 815 mil barcos produzidos em 2015 – excetuando a contagem da região norte, que não dispõe de estatísticas-, o país possuí apenas 250 barcos per capta, enquanto nos EUA a relação é de 23 e na França, de 63. Nova Zelândia e Suécia aparecem no topo do ranking, com 7 barcos per capta. Precisamos chegar a 100, afirma Marcio Dottori, para que o potencial comece a ser explorado. Ou seja, há muito campo a ser desenvolvido no setor e muito trabalho pela frente.
Ele ressaltou também que cada barco gera 8 empregos diretos na construção e que esse número aumenta quando pensamos também na manutenção das embarcações, o que já justifica investimentos no setor. Na visão de Marcio Dottori, o mercado náutico teria que adotar uma norma geral para os construtores e o Estado precisaria oferecer mais acesso ao mar, através de obras públicas, e seria necessário fomentar a cultura náutica, além de um investimento maior em mão de obra, como já havia sido salientado por outros palestrantes nesse dia.
O Primeiro Seminário de Tecnologia Náutica do Brasil foi um sucesso, com a participação de mais de setenta pessoas, segundo a organização da SOBENA. Com o altíssimo nível técnico apresentado pelos palestrantes e um retorno muito positivo do público, espera-se que a já anunciada edição de 2018, prevista para novembro, seja ampliada e receba ainda maior público. Apoios de peso do setor foram responsáveis pelo sucesso, como o DIT (Department of International Trade) do Consulado Britânico, que já sinalizou que prosseguirá apoiando o evento em suas próximas edições.
Além do Consulado Britânico estão entre os apoiadores, a Revista Náutica, a ACOBAR, a COPPE, a UFSC e a B&G Yach Design. Barracuda Composites e SOTREQ foram as patrocinadoras deste ano, viabilizando o evento.
O BRANA, que também é parte integrante da organização desta edição, reforça seu apoio e segue contribuindo com o recém formado Comitê Náutico permanente dentro da SOBENA.
Olá, parabéns pelo evento! Conseguimos acesso ao seminário pela internet?
Obrigado.
Lucas, infelizmente o evento não foi gravado. É uma boa idéia para os próximos. Abraço!