Nesse segundo dia do curso de Introdução à Construção Naval na Wooden Boat School nós basicamente cortamos as balizas e as montamos. Um projeto bem feito deve dar ao construtor todas as informações de que ele precisa e não que o faça tomar decisões que mudam o que já deveria estar especificado. Foi justamente a falta de informações no projeto do Bayskiff 12, no entanto, que fez com que o instrutor Bill decidisse construí-lo com uma turma de leigos no assunto. Tudo pela didática. Bill repetiu várias vezes ao longo do processo que esta seria uma oportunidade para desenvolver a capacidade de decisão dos novos construtores. E eis que surge um ponto importante dessa história toda: o construtor não é apenas aquele profissional que lê os planos do barco que vai construir. Ele deve criar soluções para os intricados problemas que o projetista coloca para ele em um plano de construção. Tecnicamente, as informações todas devem estar ali apenas pare serem lidas. Mas é na seleção das melhores estratégias de construção que um bom construtor naval se destaca.

Bill demonstra pra turma uma tarefa pra montar as cavernas (Fonte: próprio autor)
Bill demonstra pra turma uma tarefa pra montar as cavernas (Fonte: próprio autor)

Para começo de conversa, tivemos que fazer projeções do que seria a linha de fundo e suas cotas para poder riscar os painéis de costado nas folhas de compensado de 9 mm que tínhamos chanfrado na aula passada e que agora estavam coladas e à disposição. Nada mais que pura credibilidade na escala do desenho, que não contava com as medidas exatas do que precisávamos fazer. Tivemos de assumir que a roda de proa teria uma determinada forma que nós mesmo criamos e que, de uma forma geral, todas as tarefas envolvidas na construção nasceriam de fato da estratégia do construtor e não necessariamente do planejamento do projetista.

Além disso, também iniciamos nesse mesmo dia a construção daquele outro barco, o pram, projetado por Bill e que, por um acaso da coincidência, também não possuía os planos, já que o próprio Bill ainda não havia tido tempo para tornar as instruções oficiais. No fim das contas, o interessante era que tínhamos dois barcos a serem totalmente construídos naquela semana, cada um com seus desafios, mas com uma coisa em comum: falta de informações necessárias para que um construtor inexperiente conduzisse seu trabalho apenas na base da leitura. Mas bem, em se tratando de um kit (todas as partes do Mischief foram pré-cortadas em uma máquina de corte numérico – CNC), sabíamos que ao menos esse pram seria “montado” da forma certa se seguíssemos as orientações do projetista/instrutor. O desafio mesmo era construir o Bayskiff que ainda nem sequer existia nesse segundo dia, a não ser por algumas poucas balizas cortadas e coladas esperando no chão para que fossem coladas ao costado.

Era interessante ver que também nenhum dos dois barcos nascia a partir de um picadeiro, uma base sólida e nivelada chumbada ao chão. Graças à simplicidade e modernidade dos métodos empregados, poderíamos postergar esse alinhamento para os estágios finais de montagem das peças de cada um dos barcos. Alguém que entrasse naquela oficina nesse dia iria nos perguntar onde estariam os barcos em construção. Nós apontaríamos para alguns montes de madeira cortada nos cantos da oficina. Interessante perspectiva.

O barco no segundo dia: uma pilha de cavernas (Fonte: próprio autor)
O barco no segundo dia: uma pilha de cavernas (Fonte: próprio autor)

Todos os 12 alunos envolvidos, no entanto, trabalhavam incansavelmente em torno dessas peças que eram nossos barcos ainda nesse segundo dia. Como haviam várias fainas em cada um dos dois barcos, os grupos se separavam e se reuniam diversas vezes, acompanhando uma orientação para uma certa tarefa ali, executando outra acolá. Já sentíamos a expectativa de ver aqueles barcos surgindo ao fim da semana.

About the author

Leave a Reply