Partir do princípio de que a melhor construção é a mais simples é quase um preceito filosófico. Afinal, até Occam no século XIII sabia disso.
Os barcos de fundo chato são a síntese da funcionalidade e da simplicidade e são constantemente remetidos a seus ancestrais, barcos robustos de serviços como a pesca e o transporte de cargas. Até hoje é possível ver na concepção dos maiores navios e barcaças esse princípio sendo aplicado com sucesso.
O fundo chato permite uma construção rápida, intuitiva e barata. Dispensa o uso de muitas máquinas e pode até ser feita por uma só pessoa, tão leve que pode ser o trabalho – dependendo, claro, do tamanho do barco. As versões construídas em compensado naval são hoje as mais populares, usando muito do método conhecido como ply glass, em um misto de fibra de vidro e resina epóxi. O formato de trabalho é tão simplificado que dificilmente algum desavisado pensará em construir uma fôrma para produzir o barco em escala.
O fundo chato, é claro, não é a forma mais hidrodinâmica possível para um barco e não se espera ter uma máquina de regatas à vela ou à remo com um barco desses. No entanto, um barco de fundo chato pode navegar até com um motor de popa devido à generosa área de planeio que seu fundo confere. Ainda assim, seriam muitas as variáveis a se pensar para um projeto com essa intenção.
Esses barcos são excelentes remadores e a sua versatilidade costuma ser imbatível. São próprios para o encalhe em uma praia arenosa e sua robustez e o calado usualmente baixo o tornam uma excelente opção para transporte ou mesmo para o emprego como barco de apoio, rebocando outros barcos, até eventualmente maiores que ele, com destreza.
Se você quer conhecer um pouco da construção artesanal de um barco forte e versátil, aposte nessas “formigas” do mar. Pequenas, fortes e muito dispostas. Muitos projetistas de renome já apostaram suas fichas em projetos com essa característica. Vide o Echo Bay Dory Skiff, do Clinton Chase ou o Bevin’s Skiff, só para citar alguns. O próprio BRANA já desenvolve esse conceito em um dos projetos atualmente em composição, o Daysailer 14. Logo em breve os planos desse projeto estarão disponíveis para a construção amadora e poderão ser adquiridos em nosso site ou construídos durante uma das nossas aulas práticas. Fiquem ligados ;)
Parabéns pela esclarecedora matéria.
Fiz o curso de carpintaria de pequenas embarcações, ministrada no CVT da Pesca, Agricultura e Meio Ambiente – Gradim, SG/RJ.
E o projeto de curso foi exatamente um barco de fundo chato (7 m) que nós construímos durante as aulas ( 200 hs de duração ).
Este curso está momentaneamente inoperante.
Mas por feliz coincidência, hoje eu conversei longamente por telefone com o Mestre Rômulo (Boaçu, SG/RJ), que foi o instrutor no curso e alguém que dificilmente sairá das melhores memorias de que teve a fortuna de ser seu discípulo.
Mais uma vez, Parabéns e Muito Obrigado por tão feliz matéria.
*A tempo: Mestre Rômulo também é conhecido como o “Alfaiate dos Barcos”!
Luis Medeiros, qual foi a madeira usada no Gradim?