Uma Entrevista com Anna Paula Vieira, uma yacht desinger baiana projetando na Itália.
O projetista de barcos, conhecido como yacht designer, é uma rara profissão no Brasil. Isso se dá principalmente por dois motivos: a falta de escolas especializadas no assunto, e a falta de serviços para esse profissional. Como então se formar para fazer projetos de veleiros ou de lanchas?
Mas isso está prestes a mudar. A formação de yacht designer capacita o aluno a atuar profissionalmente junto a estaleiros de embarcações de esporte e recreio de uma maneira geral, no Brasil e no exterior, e inclui em sua ementa muito do que o tecnólogo, e mesmo o engenheiro naval, sabem em relação às embarcações, porém numa formação mais voltada ao design propriamente. Esse é um universo ainda em expansão por aqui.
Nós conversamos com uma projetista de barcos brasileira que realizou o sonho que muita gente tem, buscando na Itália a complementação para sua formação. Bacharel em arquitetura pela UFBA, Anna Paula Vieira é uma baiana de 28 anos, hoje radicada na Itália, onde trabalha num grande escritório de projetos de embarcações de luxo, e é uma das poucas yacht designers brasileiras.
BRANA: O que a motivou a buscar a formação como projetista de barcos?
Anna Paula: A coisa de fazer yacht designer foi meio sem planos. Minha melhor amiga de infância tinha um padrasto que teve algumas lanchas da Azimut, que chegaram a ter 62 pés e por isso eu convivi muito com lanchas. Na escola de arquitetura eu comecei a ver a lancha como uma casa de verdade. E a ideia de me tornar uma yacht designer veio através disso. Lá pelo meu terceiro ano de faculdade eu já descobri, meio que por extinto, que a Itália era o lugar tradicional de projetos de barcos. Então eu decidi que queria vir para a Itália para projetar lanchas!
BRANA: E onde você foi buscar essa formação? Como foi essa busca pela escola?
Anna Paula: Eu vim pra Itália um pouco depois de pensar em estudar italiano e na primeira vez eu não fiz nada relacionado à escola e a formação em si. Mas quando voltei ao Brasil, pensei muito em fazer uma pós-graduação na Itália. Quando eu estive no meu intercâmbio, eu descobri que havia esse curso de pós-graduação em Milão, na Politécnica de Milano. Eu fiz minha inscrição, passei pelo processo seletivo e fui aprovada entre os 25 selecionados, dentre os mais de 70 inscritos. A turma era muito diversa, mas havia só eu de brasileira. Todo o resto da turma era europeu.
O Que Esperar de Um Curso de YD?
BRANA: Como foi o curso em si? Era o que você esperava?
Anna Vieira: O curso foi muito desafiador. É um curso voltado para arquitetos, engenheiros, designers e é um curso que já na primeira semana te abre os olhos pra um mundo que você não tem nem ideia que existe. O mundo de mega, super yachts, com budgets de US$ 500.000,00 só para mobiliário, para se ter uma ideia.
BRANA: E quais eram as disciplinas desse curso?
Anna Paula: Durante o curso tive duas disciplinas de projeto, uma de barcos a vela e uma de barcos a motor com profissionais consagrados, além de disciplinas de hidrodinâmica, arquitetura naval, com todos os cálculos, bem pesado. As demais disciplinas eram até tranquilas. As aulas duravam o dia todo, de 8 da manhã às 7 da noite. Havia também viagens para estaleiros, experiências a bordo de veleiros, então era um curso que tomava 100% do seu tempo.
BRANA: Você tem um portfólio profissional compostos de dois projetos em parceria com outros designers. Fale um pouco para gente do “Nuance” e do “Megattera”.
Anna Paula: O foco do curso era o projeto mesmo, eles davam as ferramentas para você projetar. Fiz então esses dois projetos, um a vela e um a motor, de 80 pés e 42 metros, respectivamente. Ambos fiz em grupo, porque são tarefas que não fazemos sozinhos, mas os grupos integravam engenheiros, arquitetos e designers e foi uma experiência muito boa para mim. O projeto do barco a motor acabou de ganhar uma publicação numa revista especializada aqui na Europa.
BRANA: Quanto tempo durou seu curso?
Anna Paula: Foram seis meses de aula mais seis meses para estágio. Depois eu retornaria apenas para a apresentação dos trabalhos. Normalmente você apresenta o trabalho em junho, em setembro você começa o estágio e retorna para apresentar a tese em meados de abril do ano seguinte. O meu estágio foi num escritório de Milão, que estava trabalhando num projeto de German Frers, mas que infelizmente não foi para a frente, não foi construído. Minha experiência lá não foi legal, foi bastante difícil e diferente do que eu estava acostumada, além de que também não era um escritório de reputação muito boa. Nesse escritório eu também trabalhei num super yacht de 60 metros para uma famosa dupla de designers de moda, este ainda a ser entregue possivelmente esse ano.
Eu voltei, então, para Politécnica de Milão em meados de maio para apresentar meu trabalho e me formei como projetista de barcos.
BRANA: No fim, você acha que valeu a pena sair do Brasil para se formar como projetista de barcos pela Politécnica de Milão?
Anna Paula: O Instituto Politécnico de Milão é muito exigente, ensina muito, mas também cobra muito. Mas é uma estrutura muito bem montada e por isso um profissional formado lá é muito reconhecido no mercado.
Como é a Carreira na Europa?
BRANA: O que veio depois do curso, depois da sua formação, e como foi sua busca por emprego no mercado europeu de hoje?
Anna Paula: Depois de formada eu comecei a procurar por uma colocação no mercado, mandei currículo pra muitos lugares e fui finalmente chamada pra trabalhar no escritório em que trabalho hoje, de Franchesco Paszkowski, um escritório consagrado, dos sonhos. Esse escritório, inclusive ganhou o Compasso de Ouro, o maior prêmio de design, que eu nem conhecia à época, sabia apenas que era um cara muito importante. Fiz a entrevista e logo fui chamada para fazer três meses de estágio que foram renovados.
BRANA: Conte-nos mais sobre seu novo emprego e suas atribuições no escritório…
Anna Paula: Nesse escritório eu faço muitas revisões de planos, trabalhando diretamente nos arranjos internos e atualmente estou trabalhando em uma embarcação para um cliente dinamarquês, fazendo toda a parte interna e externa, móveis, renderes, tudo, até mesmo escolhendo almofadas, livros etc.
BRANA: E que mercado mais te interessa como yacht designer?
Anna Paula: Eu não queria um trabalho de escritório, queria ir para o estaleiro ver como a coisa funciona, mas diante do convite de trabalho de Paszkowski eu não pude recusar a oferta.
E Quanto ao Mercado Brasileiro?
BRANA: Quais são suas perspectivas para o futuro? Como você enxerga o mercado daqui a 10 anos?
Anna Paula: Eu não desisti da ideia de trabalhar num estaleiro porque acho que será muito importante para a minha carreira, independentemente de onde eu vá trabalhar. Tem muita nomenclatura que eu sei que ainda desconheço. Venho da arquitetura, então às vezes eu acho que ainda tenho muito a aprender, muito a trabalhar. Minha perspectiva para o futuro ainda está indefinida porque o mercado é voraz, como qualquer outro trabalho na área de criação, por isso tenho que trabalhar muito antes de pensar em atuar solo.
BRANA: Como você enxerga o mercado de atuação para yacht designers no Brasil?
Anna Paula: O mercado de design no Brasil é uma incógnita. Eu acho que o mercado de design civil no Brasil está começando a tomar corpo, a tomar forma. Temos bons designs de móveis e arquitetos que ganharam o mundo e um respeito enorme e isso mostra que a gente está crescendo como design, mas ainda somos muito pequenos. Sobretudo em relação ao design naval. No Instituto Politécnico de Milão todo ano temos pelo menos um brasileiro selecionado no curso e eu pude conversar com um colega da turma anterior à minha, então acho que é um mercado em que posso pensar em começar num próximo ano. Acho que devagar a gente vai chegar lá. A vida na Itália no geral é bem difícil porque não é fácil ser respeitado como estrangeiro, como sul-americano e isso come um pouco as esperanças de ter um escritório de design por aqui. Isso me faz pensar cada vez mais em ter meu escritório no Brasil.
BRANA: Você pensa em voltar ao Brasil?
Anna Paula: Eu penso em atuar no Brasil, em montar propostas para mandar para estaleiros. Tenho uma visão pelo simples fato de morar aqui, por ver que os italianos estão muito mais ligados ao design e à estética do que o brasileiro e eu me toquei disso aqui. O Brasil está muito aquém na questão do design. Então sim, eu tenho intenção de me lançar no mercado brasileiro de alguma forma, mas ainda não enxerguei como.
BRANA: Anna, muito obrigado pela entrevista. Temos certeza que sua experiência pode animar outros brasileiros a se envolverem com esse campo no país.
E você? Tem ou já teve o sonho de se tornar um projetista de barcos como a Anna? Conte pra gente nos comentários seus planos. Vamos cultivar sonhos.
Olá Luiz. Tudo bem?
Meu nome é Rosália Paraíso, e temos o Private Resort Coração Aberto, na cidade de Capitólio – MG, @ranchocoracaoaberto, http://www.ranchocoracaoaberto, e estamos interessados em realizar nossa expansão construindo suítes flutuantes para navegarem no lago de Furnas.
Você teria contatos de yacht desingers para nos referenciar?
Muito grata.
Grande abraço.
Olá, me chamo Fernanda, e me interessei muito por yacht design no começo desse ano. Apenas trabalhei como arquiteta no campo de reformas, pequenas obras e com móveis planejados. Na metade desse ano eu fiz minha entrevista com a politécnico di milano e infelizmente não fui aceita no programa.. Disseram que eu não me enquadro no programa pelos meus projetos serem de interior e reformas. Gostaria muito de saber, se possível, entrar em contato com Anna Paula e saber como conseguiu ingressar na Poli. Se já tinha portfólio e por isso foi deferido seu ingresso no programa. Obrigada desde já,
Fernanda.