É muito fácil encontrar na internet revisões e críticas às embarcações novas em folha, recém-saídas das pranchetas de um famoso projetista italiano, inglês ou americano. Difícil mesmo é ver como esses projetistas alcançaram esse nível de refinamento de projeto ou que embarcação lhes serviu de inspiração para chegar ao resultado final.
No caso de algumas embarcações de serviço, entretanto, acredito que seja mais fácil encontrar as raízes e inspirações dos projetistas. É o caso da embarcação tradicional Biana. Esta embarcação miúda, de origem cearense e de simples construção carrega em si as referências que muitos chamados “daysailers”, os barcos de passeio diurno, têm em si.
Trata-se de um casco construído basicamente de tabuados longitudinais em seu costado e cavernas que os reforçam transversalmente para lhe garantir resistência para o transporte de carga. São embarcações encontradas com ou sem um mastro que suporte uma vela de espicha, que ainda hoje é muito empregada na pesca da região que se estende desde o Ceará até o Maranhão.
Possuí também como característica uma proa com um espelho, ou seja, uma seção transversal reta, e não afilada, tal como o cúter. Tem como primo distante o Igaraté, embarcação típica maranhense, mais especificamente do Golfão Maranhense, mas que não possuí quilha, tem fundo mais arredondado que o da Biana e é conhecido por ser mais lento.
São duas coisas interessantes de se perceber nessa história toda: a primeira é que são embarcações de extrema simplicidade de construção e com aspectos facilmente reconhecíveis em outros barcos não-cabinados; A outra é que são embarcações extremamente versáteis, cabendo a praticamente qualquer emprego. Não à toa pode-se verificar que seus lemes, mais profundos que o normal para uma embarcação deste porte, possuem até mesmo uma regulagem de altura para que possam navegar com calado reduzido em águas muito rasas.
Por essa razão, podemos pensar que uma embarcação dessa já serviu muitas vezes de inspiração para muitos dos nossos projetistas. E se não serviu, deveríamos refletir sobre o porquê disso não ocorrer e como podemos incentivar a prática de pesquisa sobre embarcações tradicionais no Brasil, valorizando seus aspectos e elementos fundamentais (como a versatilidade do Biana) em nossos novos projetos.
E se não o foi, que não caiamos na armadilha de achar que tudo não passa de uma coincidência. Isso é mais que coincidência; trata-se de certo bom senso do homem do mar, que sabe que escolher uma embarcação que lhe favoreça o serviço é também sinônimo de prazer e resultado, assim como para o velejador de fim de semana o prazer da velejada é sinônimo de tradição.
Mais uma vez, o livro Embarcações do Maranhão, de Luiz Phelipe Andrès, nos ajudou na compilação de informações para este artigo.
QUE MARAVIIIIIIIIIILHA !!!!!!!