À primeira vista a marcenaria naval pode parecer uma atividade apenas braçal, mas acredite, ela envolve muita matemática, trigonometria e criatividade. Os mestres dessa atividade são verdadeiros artistas!
Um bom exemplo é a construção da roda de proa (stem). Precisamos refletir sobre como as tábuas longitudinais (planking) que formam o casco irão se encontrar na proa a certa distância umas das outras para que a roda de proa possa se encaixar ali. Além disso, é preciso imaginar (e desenhar) qual será o formato da cavidade ou chanfro que será necessário fazer nas diferentes alturas da proa para que tudo se encaixe perfeitamente. Tudo isso antes de começar a construção do casco propriamente dito, ou seja, impossível de se fazer apenas empiricamente.
Construtores experientes conseguem chegar ao desenho da roda de proa e dos seus chanfros apenas com um plano de linhas, usando basicamente trigonometria e projeção geométrica.
Para um construtor não experiente, além do plano de linhas, um plano de construção específico e detalhado, elaborado por um projetista, pode ser de grande valia. Ao invés de calcular todas as dimensões, com um plano detalhado o construtor pode apenas transferir as medidas e a partir daí construir a roda de proa e qualquer outro elemento estrutural.
Para mostrar isso didaticamente, pode ser útil imprimir um modelo 3D da roda de proa, mostrando o chanfro para encaixe das tábuas e para o encaixe da quilha (falaremos da quilha em outro artigo).
A roda de proa, elemento estrutural vital para a construção de uma embarcação é, portanto, também parte da arte de marcenaria que o construtor naval deve poder traduzir dos planos de um projetista. Nos próximos artigos, vamos apresentar também outros aspectos desse ethos que costumam assustar os principiantes no ramo, mas que com um pouco de prática, tornam-se habilidades corriqueiras do trabalho.
Sobre o Autor
Cassio Neres
É projetista de embarcações formado pela The Landing School em Maine, EUA, onde atualmente leciona e projeta. Praticante de surf e kitesurfing sempre amou o mar. Em 2015, após mais de 10 anos como co-fundador e diretor de uma empresa na área de TI, decidiu iniciar um movimento de transição em que pudesse combinar essa paixão com suas habilidades em matemática, solução de problemas, desenho e arte. Acredita no potencial náutico do Brasil e deseja contribuir para que as pessoas possam desfrutar de uma relação mais próxima com o mar. Mais informações em seu site.
Parabéns Cassio! Excelente artigo. Espero que sua participação na Brana ajude a desmitificar a construção naval de pequenas embarcações.
Um grande abraço,
Murilo
Valeu Murilo!!!
Boa noite, gostaria muito de aprender a construir embarcações para pesca, em madeira e para naveração em mar aberto.
É possível me orientar com algumas apostilas e dicas de onde posso encontrar informações para tal projeto?
Obrigado
Boa noite, Raul.
O BRANA está desenvolvendo um vasto material a respeito da construção naval de pequenas embarcações. Muito em breve lançaremos também cursos de construção em nosso estaleiro-escola.
Fique ligado!