A Construção em Ply Glass
Quando se pensa em construir um barco, já logo se visualiza todo um trabalho de arrumar um espaço coberto e seguro, as máquinas e ferramentas, os materiais e um longo processo pela frente. Portanto, é de se admirar que seja possível construir um barco em 25 horas, como é previsto para a construção do Bevin’s Skiff, por exemplo.
A realidade é que apesar de estarmos falando de um barco de madeira, os materiais e os processos envolvidos evoluíram muito desde as famosas publicações americanas da década de 40, que incluíam projetos de construção de barcos nesse material. Naquela época era difícil encontrar fibra de vidro e também pessoas capacitadas a trabalhar com esse material. Além disso, a coisa costumava ser um pouco desestimulante, principalmente porque o método de construção em madeira envolvia processos complicados de serem conduzidos por amadores, sobretudo em um curto espaço de tempo. O construtor precisava dispor de máquinas próprias para cada trabalho e, possivelmente, de muita habilidade com o material para conseguir resultados satisfatórios. Daí o estigma de que para construir o seu próprio barco é necessário muito tempo e dinheiro.
Hoje, a cultura de construção naval de pequenas embarcações deu um salto com o uso da fibra de vidro. Essa tecnologia, que se popularizou a partir da década de 60, foi largamente empregada na construção de barcos de lazer em série, como lanchas e veleiros, e foi uma revolução porque permitiu que diversos barcos fossem construídos a partir de um mesmo molde, facilitando a produção em massa. A boa resistência estrutural e as propriedades de isolamento acústico, térmico e o ótimo acabamento colaboraram para o sucesso do material nessa indústria.
No entanto, o uso da madeira também não deixou de evoluir e passou a agregar o uso do compensado naval e da própria fibra na construção de pequenas embarcações, num processo que evoluiu para o que conhecemos hoje como ply glass. Esse método nada mais é do que aliar a construção em madeira, na forma de compensado naval, com a resistência da fibra de vidro (tecido + resina). Dessa forma, a enorme quantidade de artifícios que a construção tinha que se valer para ser eficiente estruturalmente pôde ser consideravelmente reduzida para uma simples montagem, tão eficiente quanto a anterior, em termos estruturais, mas muito mais simples e rápida.
Esse método possui algumas limitações, é verdade, sobretudo com relação à dimensão da embarcação construída, mas é muito aderente a barcos de pequeno porte, até cerca de 30 pés de comprimento. O método, baseado na união de chapas de compensado reforçadas por uma ou mais camadas de fibra de vidro impregnada de resina epóxi, é facilmente identificado pelas características quinas formadas no encontro dos painéis. Exemplos de ótimos projetos construídos com o uso desse método são os projetos da linha Multichine, do projetista brasileiro Cabinho, como o popular Multichine 23; entre outros diversos projetos, vendidos até em forma de kit de montagem, como os do CLC Boats.
Dessa forma, a construção amadora ganhou mais um aliado na popularização da construção naval, já que a simplicidade, os baixos custos e a rapidez da construção são agora parte desse processo. Para se ter uma ideia, muitos pequenos barcos não exigem nem mesmo que sejam construídos a partir de uma sólida base alinhada., Eles podem ser construídos e só depois alinhados nas etapas finais da construção do casco, o que viabiliza a construção em qualquer lugar.
Agora a pergunta que fica é: quando você vai começar a pensar em construir o seu próprio barco? ;)