Watercraft Collection – Mystic Seaport
Uma das coisas mais importantes para um cenário de construção naval ativo é a preservação de uma memória náutica. E isso os Estados Unidos fazem muito bem. Não somente porque a região da Nova Inglaterra recende toda uma tradição pesqueira, mas porque é justamente em Connecticut, estado ao norte de Nova York, que se localiza, entre tantos museus dedicados à náutica, o maior deles, o museu Mystic Seaport, na pequena cidade de Mystic.
Com quase 17 mil metros quadrados de uma vila temática com todo tipo de artefatos e recriações fiéis a diversos momentos históricos da construção naval na região e no país, e também contando com dois navios à vela (um deles sendo, inclusive, o único baleeiro a vela ainda navegando no mundo), o museu mundialmente famoso Mystic Seaport é quase uma Dysney para os amantes de barcos.
BRANA visitou o museu em setembro, durante a passagem pela Nova Inglaterra. Antes de chegarmos à pequenina cidade de Mystic, entramos em contato com o staff responsável pela manutenção e curadoria do que é o maior acervo de pequenas embarcações históricas no mundo, o Watercraft Collection. Localizado em um prédio anexo do museu, no centro de pesquisas, o Watercraft Collection possui dois hangares que reúnem quase 500 embarcações, de diversas épocas, nos mais variados estados de conservação. Esse número está de acordo com o último levantamento oficial da entidade, publicado no belo livro “Mystic Seaport Watercraft”, lançado em 2001, ou seja, já deve estar até desatualizado em relação ao número de barcos lá armazenados, já que o museu não deixa de receber doações.
Graças à equipe que nos recebeu e que permitiu a visita do BRANA a essa coleção, que ainda não está aberta ao público em geral, pudemos visitar e conhecer um pouco mais da memória americana de pequenos barcos à vela, à motor, à vapor, à remo…
Scott Noseworthy, o coordenador da coleção de motores do museu, nos recebeu na porta do hangar da coleção e nos guiou por entre caiaques, skiffs e os mais diversos barcos, desde um pequenino exemplar da classe cocktail até lanchas a vapor do fim do século XIX. Scott nos explicou que muitos dos barcos chegaram em estados precários de conservação, mas que a proposta do museu era preservar a embarcação tal como ela chegou ao museu, numa forma de preservar também a memória daquele casco, sua história e a do seu doador. A equipe do museu passa então a ter a responsabilidade de catalogar fielmente todos os dados de cada um dos barcos ali presentes e manter a embarcação para que possa ser vista e estudada adequadamente.
Tal qual uma biblioteca ou um arquivo, o acervo tem como missão preservar para permitir o acesso de pesquisadores do assunto e para fins de pesquisa do próprio museu, que é um centro de referência na pesquisa em construção naval e que tem também projetos sociais envolvendo crianças e jovens, através das mais diversas atividades conduzidas ao longo da temporada em cada ano.
No último dia 24 de setembro o museu inaugurou um novo prédio no campus, o Thompson Building, que receberá, entre outras exposições, seleções de barcos da coleção Watercraft Collection, antes inacessível ao público. Certamente com isso o museu ganha em visibilidade e o público vai ganhar com a enorme memória que este lugar tem a oferecer. Esperamos agora retornar para ver muito mais barcos expostos.
Agora nos resta render um grande agradecimento aos que nos ajudaram com essa pesquisa do BRANA nessa incrível coleção. O que apreendemos lá certamente está sendo de grande valia para a formulação de nossos cursos de projeto e de construção de pequenas embarcações. O nosso muito obrigado ao Sr. Dana Hewson, vice-presidente do museu e curador sênior da coleção, à Sra. Shannon McKenzie, que nos ajudou na marcação da visita e nos possibilitou essa incrível experiência, à Sra. Sharon Brown, eterna mantenedora da memória do projetista e construtor John Gardner e, claro, ao nosso guia nesse dia, o Sr. Scott Noseworthy.